domingo, 5 de setembro de 2010


Estar sóbrio em meio tanta embriaguez é como cair de um penhasco.
Enquanto me comia com todo seu corpo e recitava os mais belos poemas com suas risadas e o suor que escorria desenhando seu colo, eu estive sóbria, assustadamente sóbria enquanto tua cabeça rodava e teu sexo pegava fogo, e quando você acordou com uma puta ressaca eu mal havia dormido tentando encontrar alguma conexão entre tuas palavras e teu olhar.
E eu te achei maluca, maluca enquanto rodava envolta da minha cabeça e envolta de si mesma, e eu pude jurar que tua cintura já não fazia mais parte do teu corpo, e nem mesmo daquele lugar, ela flutuava perto da lua, menina.
E eu já não consigo saber se tomei da tua saliva a bebedeira ou se a sobriedade em excesso tão destoante me enlouqueceu, mas eu pude jurar que o tempo fragmentou-se, que o céu mudou as estrelas de lugar, e que tua risada me fez crer que gnomos puxavam os fios dos meus cabelos por de trás das árvores.
E, não, não há mistério algum, nem nas paixões por abajur, nem mesmo nas profusões que restaram, tão pouco nas imaginações que me cercam sobre um amanhã incerto, que eu, cá entre nós, denominaria futuro, mas dizem que esta palavra é forte demais para um doce momento de degustação, imagens que vem pouco depois da ceia, quando a cabeça já não esta aqui,mas também ainda não está lá.
E a ressaca,sem sentido algum, vorazmente toma conta do meu corpo, os meus dedos formigam, e como nunca eu posso imaginar as formiguinhas andando de lá pra cá.
Será você, que colocou-as dentro da minha pele pra que eu não
pudesse te esquecer?
Ah,menina, se esta façanha é tua,não se preocupe, eu não contarei a ninguém,mas sinta-me sussurrar no teu ouvido docemente,que não era preciso, pois eu estive insanamente sóbria, e por mais que o tempo, os tapas e novos porres, levem da tua memória as palavras e os poemas que saíram de você, eu não esquecerei. Eu não poderia.