quinta-feira, 7 de julho de 2016

Quando seu coração se desmanchou escorreu como suor por todo seu corpo eu me fiz tecido permeável pra te acolher e te mostrar que se desmanchar, as vezes, é se refazer.
A verdade é que parte de mim se perdeu você, que minhas células confusas migraram pra sua corrente sanguínea e me vejo fluindo por suas veias enquanto mantenho meu solilóquio.
Há pouco pra se entender quando seu corpo é capaz de unir as partes fragmentadas de um outro corpo: não é poesia, é organicidade.
Te embalo ainda nos meus braços num intuito metafísico de embalar a mim mesma, eu chorei contigo o perdão que não me dei e senti o gosto do seu medo como nunca pude sentir o meu.
Eu sei que dói, dói absolutamente tudo, rasga a alma ao meio, e eu não esqueço suas mãos coladas ao peito como quem tenta conter a hemorragia.
É isso, pequena, sensibilidade é hemorrágica. E só o tempo te ensina a manter o fluxo  e a respiração.
Eu me sinto desgastada por mim mesma, corroída pelo tempo e pela exposição, mas faço de mim barragem, e sinto que me rompi ao tentar conter suas águas turvas. Estou inundada, de mim, de você, do caos de nossas mentes.
Eu sou ferrugem e você tinha fresca.

sábado, 16 de abril de 2016

Você sabe que ela vai voltar e preterir e destruir tudo a nossa volta. Pé por pé, sorrateiramente. E os cacos voam para o teto, tem a ver com aquela cadeira que você não quebrou nas costas dele, e com aquele amor que queimou você por dentro e você deixou.se incendiar como uma labareda que ilumina um vilarejo inteiro. Você iluminou tudo aqui e agora não sabemos viver na escuridão mesmo sabendo que na escuridão eu ouço melhor todos os meus ruídos e os gritos  abafados no peito. Agora eu te escrevo com o cigarro entre os  dedos da mão esquerda e lsd na cabeça. Essa cabeça sozinha, delicada e tão perturbada que você insistia em ninar. Eu não consigo gostar do odor da nicotina mas é só e tanta solidão que me enviou nessa carta de ausência e silêncio.
O tempo está se perdendo no meu coração e ela chegou e parou os ponteiros do relógio, agora eles vão n ritmo único rumo a lugar nenhum. Eu não quero rotas e destinos, não me agrada o pes cansados de tanto te procurar, já me basta a cabeça que não para de girar. Eu sinto amor no chá de gengibre com canela, no canteiro de plantinhas que n existe ainda, nas luzes coloridas que ecoam no teto da sala, a sala que é a minha casa e a dela, a casa que sou eu e que é ela.
Na loucura que a gente compartilha e corrompe e traz pra dentro de toda a nossa imensidão. Eu descobri um mundo sem você e sou um desabrochar constante de inconstâncias e insanidades. Eu quero assim. Eu quero assassinar minha etiqueta, meus pesares, já me basta meu peso e medidas.
Eu sou sólida, líquida e escorro pelo gozo entre minhas pernas peludas. E os pelos me acalmam, me aquecem e me  mantém intacta, contactada comigo e com elas.
A casa que é minha, que é dela, e que agora é brisa calma, é mansidão e emancipação das nossas tragédias.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

obcessão

eu sou tão obcecada, meu amor
compulsiva e desgastante
mal fecho meus olhos e lá está você
suspensa em quietude
meus braços compridos não te alcançam
e me angustia a lembrança de quando
dançávamos com as mãos no ar
havia tanto espaço e oxigênio
eu estou multiplicando minhas dores
me sinto tão repetitiva, meu bem
o medo hoje não me toma de todo
mas há dias em que me sinto mergulhada
até o pescoço e a pressão no peito é tão intensa
que eu sinto medo de morrer.
acho que você é bem melhor
em reconstruir a vida do que eu
eu caminho por aí tremula
com essas feridas abertas, expostas
eu rasgo minha pele quando sinto a alma latejando
antes esse sangue escorrendo do que essas lagrimas corrosivas
eu sinto, pela primeira vez na vida, o tempo passar por mim
eu não o acompanho mais, nós nos desconectamos
é incrível a capacidade de regeneração da pele
as cicatrizes muitas vezes até desaparecem 
nada fica, nem mesmo consigo recordar a dor dos cortes
eu me sinto tão drogada, o tempo todo
tudo que eu sempre quis ser e nunca encontrei
agora eu posso ver e o meu mundo é vazio
e o silêncio e a solidão não me machucam como antes
e eu estou aqui, estática, bem a sua frente
pronta pra lhe dizer que a saudade é orgânica
e ela brota por toda minha extensão
é tecido que me reveste, tecido retalhado
é saudade, minhas células respiram saudade.
Me sento no chão, é aqui que gosto de ficar. As pessoas passam por mim e não compreendem, mas tudo bem, eu já me acostumei com as incompreensões. Ponho os fones nos ouvidos, a chuva não dá trégua e bem a minha frente tem um jardim, aqui, no centro da cidade de São Paulo, no coração da selva de pedras, no cantinho escondido do metrô e todo seu caos, um jardim. Árvores, pedras, borboletas, um céu encoberto, meu respiro. Eu gosto de ficar contemplando esse espaço, ele é um contrassenso, uma afronta, e eu me sinto assim também. 
Não paro de pensar que preciso transformar essa dor em arte, mas a verdade é que só faço multiplicar e não acalentar essa ferida. Hoje é um daqueles dias, sinto sendo levada por ele, pelo passar das horas. A noite passada não foi nada boa, o moletom, o edredom, os travesseiros, nada me deixava em paz, é como se me cutucassem, me chamassem, cantassem no meu ouvido, e você no fundo da cabeça, naquela parte da mente que quando se percebe já emergiu. Eu não te expulsei de mim, nem deu tempo, eu só queria dormir, sentir as pálpebras pesando e me levando pra longe. Nesse vai e vem acordei de manhã tão cansada que nem o café forte me ajudou. De repente tanta coisa aconteceu: reforma em casa, tomar banho pra ir ao médico, terapia, rua, asfalto, trânsito, chuva, mais chuva e eu não posso parar. Tudo bem, eu nem consigo mesmo parar, a massa me leva e eu vou, eu voo.

quarta-feira, 16 de março de 2016

Sua ausência é tão desesperadora que me emudece
Paraliso, vejo tudo se mover e eu não sou parte
Minha mente flutua, de lá pra cá, na irrealidade
E eu busco reconhecimento nas suas palavras
Encontro! - Em falso.
Nada é mais familiar do que esse desencontro
Nada me seduz mais que essa eterna ilusão
E o tempo está passando, em unidade, um a um
Já são quarenta e quatro, em mim, multiplicados.


domingo, 6 de março de 2016

You'll never feel the heat of this soul
My fever burns me deeper than I've ever shown to you



https://www.youtube.com/watch?v=7AUAOuLxbLo

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Improviso

Eu li a previsão do tempo
Não se preocupe, não virá temporal.
Você me fala sobre suas dissonantes paixões, sobre uma mente que vaga pelos desertos de um coração ou pelos interiores de algum sertão.
Ainda enxergo a beleza da dor, das sensações que brotam do âmago do dissabor da desilusão.
Eu olho pra você, busco os vãos dos teus olhos focados em algo que já passou. Eu pouso ali, no vácuo, no eco, na inconsistência gentil que você nem percebe que tem.
Aí então você chora, desagua no ritmo das lembranças ainda tão vívidas, por instantes sinto você mais que a mim mesma, sinto minha anestesia solidificando-se.
Acesso o inacessível: você retalha as palavras e as joga em mim, faço delas um manto pra aquecer meus pés cansados.
Eu estou aqui, ainda estou aqui, enquanto você vai e volta, frenética.
Era tão imprevisto esse nosso improviso, essa canção não ensaiada.
Eu sinto a desassociação, essa alma que plana enquanto o corpo se funde ao meu.
Minha alma se mantém e é penetrada, exposta, em órbita, envolvida nas tantas voltas dessas idas e vindas.