terça-feira, 29 de outubro de 2013

Eu procuro reconhecimento, o tempo todo algo que me conecte ao que fomos e ao que deixamos suspenso. Eu entro, mexo, reviro, arrebento, vou o mais dentro que puder chegar, e nunca volto inteira, sempre perco pedaços de mim, alguns auto regenerativos, outros me faltarão e me serão um vazio complementar. O vazio que estufa o peito, que solidifica a alma, que nos faz sentir a diferente, na pele, entre o antes e o depois.
Um espaço entre nós, um suspiro, um susto, é como cair de um penhasco que não se estende além do colchão suado. É como se nesse milésimo de segundo o fio se partisse, a conexão caísse,  e se instaurasse um vazio indescritível, um sopro, um silêncio, e quando o ar comprimido se expande e invade os pulmões, tudo que pairava no ar cai de uma só vez, na velocidade da dor, do soluço de um choro amargo. É um estouro, um rompante, um instante.

Sobre sair de casa

O certo é esse, chorar debaixo da água corrente do chuveiro, o choro, em meio a tanta água, é seco. Não distinguir as gotas doces das gotas salgadas.
O peito está cheio, segure em si mesma, aperte o joelho contra ele, deságua,  desova, destoa, desespera, e deixe a água quente cair nas costas, deixe o choro secar em meio a essa imensidão de gotas.
O vapor não me deixa enxergar tão bem um palmo a minha frente e delicadamente o espelho não reflete a minha imagem, e isso é mais do que nunca um alívio.
Nada alivia essa desconexão, mas acalma a auto piedade, acalenta, suspende a mente, deixa o corpo por si só sentir-se úmido, escorregadio, quente.
Eu gostaria de voltar pra casa! A sentença se solidifica, desenha-se por todo o azulejo, desce pelo ralo, sem dó, sem piedade... Não há mais pra onde voltar!

Solta no ar! É assim que me sinto. Seca, só, sólida, sinestésica... Eu não quero nenhuma palavra bonita, eu só quero voltar pra casa, pousar minha mão na tua, falar em você, falar com você, e me sentir em casa, e me sentir novamente segura.