quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Posso sentir minha pele se arrepiando pouco a pouco enquanto os olhos incham com as lágrimas, antes, represadas.
O grito preso na garganta e a ânsia a pender meu corpo pra frente involuntariamente.
Eu quero vomitar essa angústia. Nada disso cabe em mim mais, eu tremo, chacoalho a cabeça, rio desesperadamente, meu corpo inteiro é redenção, e me mantenho suspensa pela incapacidade de exprimir a dor.
Eu estou enlouquecida meu bem, solitária e tão tola, com tudo nas mãos, correndo a qualquer canto desajustadamente. Eu sou um desajuste de olhos úmidos e braços cansados.
Há um aperto, um sufoco que não se toca, não se atinge, e comprime, comprime e cala o soluço de um choro desesperado. E os dentes apertados, sofridamente apertados não fazem nada por nós.
Sua pele é o lugar mais seguro que eu já estive e hoje sinto-a desmanchar por entre meus dedos, virando pó, nada se mantém e eu me perco tentando recolher as partículas quase invisíveis do que fomos nós.
Caí em tentação, trai a mim mesma, pisei no meu próprio pé no balançar inconsistente da dança que não me cabe mais. A música piegas que dedilhei nos teus cabelos é só o retrato ingênuo do meu amor em órbita.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Mil vezes

Você pode caminhar pelas estradas mais tortuosas
E ainda assim você não estará sozinha
A noite vai cair milhares de vezes aos seus pés
E eu estarei no silêncio
Ou no ranger incômodo de uma velha porta.
Do lado de cá,
Abrirei meus olhos pela manhã mil vezes
E as manhãs entraram em meu peito como um rompante
Chuvosas ou calorosas, eu as sentirei num arrepio.
O teto estará logo ali, ao alcance dos meus dedos compridos
Então te encontrarei entre minhas pálpebras.
Algumas lágrimas ainda cairão,ainda assim andarei mil milhas
Até que meus pés cansados não me deixem continuar.
Estaremos tão longe de nós mesmas,
Teremos milhares de perguntas sem respostas
E daqui algumas porções de quedas noturnas
Talvez eu já não sinta mais essa dor dilacerante
Dos meus órgãos se comprimindo lentamente
E cada célula do meu corpo se contraindo para encontrar conforto.
Talvez haja conforto no dessabor do esquecimento
Mas não haverá o que me tome da memória
O ritmo sincronizado de sua respiração ao ressonar junto a minha.
Eu espero angustiada os tais mil dias passarem
E em segredo eu te esperarei mesmo que me diga mil vezes:
"Querida, eu não vou voltar..."