As crianças deliciam-se no parque, e tudo pra elas parece tão maior do que visto aqui da minha janela.Da minha janela?E pouco importa se o sol saiu ou se ainda vai sair, o tempo corre, o tempo deita sobre elas, e se esvai, e dissolve tudo que pode estar acima de nossas cabeças.
Elas continuam conversando. Ou seria gemendo?Ah, elas continuam lá, andando de frente para trás,por todos os lados as nuvens as distrai,por todos os lados as janelas tornan-se deformes,disformes.
O calendário nos traz todas as previsões pros próximos cem anos,que sem anos tudo fará muito mais sentido. E todos os amigos estarão nos parques destruídos a espera de alguma salvação?
E pra que elas parem de gritar é só não reler o texto,é só não se importar com o começo, que parece-nos tão frustrante.
As crianças fazem caretas,as crianças estão na estreita janela,a espera de algo que as sustente nos próximos sem-cem anos.
Elas gritam tanto, ah, se pudesse ouví-las como daqui eu as ouço.Se elas pudessem lhes mostrar a plenitude de um sorriso bem dado, ou de um corpo bem dado, um copo d'agua, uma perna, um amor, uma lágrima, uma lingua,um tapa...Ah! A plenitude de um tapa bem dado.
Aloha!Aloha!
Eu sei da falsidade de ser feliz, que já se é tão menos, que ser um pouco mais nos perde por completo.Será que você estendem,queridas crianças?
Será que você entendem que já não se é criança há cem ou sem anos?
Será que vocês conseguem ver o sol queimar nossos roteiros?
Agora é só fechar os olhos e deixar o copo queimar, queimar o chão, queimar a mão, queimar o corpo.
Vamos crianças mostrem a eles que não é tão ruim assim culpar outrem que não o outro.
Ah,crianças mostrem a eles que a parede não tem o cheiro de estrumo com que tanto eles sonham, e que os cantos das casas não tem assim tantos bichos,não tem assim tantas aranhas quanto eles imagimam...Vamos crianças!
É só fechar e fincar, fechar e fincar...
Os pés e as pás, os pés e as pás...
E a busca pela liberdade é a eterna prisão.
Se eu soubesse que custaria tanto.