quinta-feira, 29 de maio de 2014

O sofá


Eu achei que seriamos mais felizes quando o sofá chegasse,
Aquele sofá fofinho, com cheiro de filme e pipoca.
O sofá chegou, deitamos, sentamos, nos amamos, pouco nos deleitamos,
Encheu-se de pelos de gatos – os nossos – e cheiro de cachorro.
Por noites quase dormi por lá, por dias a fio chorei de desgosto.
Amarguei junto ao sofá e suas cores pastéis.
Aquele que era a cama das boas visitas, que era o aliado nas noites de briga,
E o porta sol das manhãs ensolaradas – o copo de café, o pão na torradeira, o programa matinal e o seu cheiro doce que ficou pela casa antes de sair pra escola.
Não fomos mais felizes quando o sofá chegou, tão pouco quando o escolhemos, menos ainda quando ele foi embora, e hoje ele abriga outras brigas, outros pés cansados, outros roncos de fim de tarde.
Hoje, eu observo-o e sinto a sua presença em auto revelo emergir na minha pele, como um grito de espanto, e da mesma forma que vem, eu a espanto – Vá embora de mim! Não posso sentir esse ardor nos olhos, não posso sentir a boca seca, não posso sentir essa saudade tão grande! – Dói.
Dói, assim, calma e vagarosamente. Dói, no sentido mais cru , e doo tudo que há de esperança em mim aos ventos, e seca, caio no sofá.
Amasso as bochechas contra o estofado já gasto, aparo as lágrimas, comprimo o soluço insistente e sufoco o pedido constante de que voltemos pra casa, que grita dentro de mim, com algum reality à cabo.
Eu achei que seriamos mais felizes quando o sofá novo chegasse, não fomos. Eu só não achei que eu seria assim um dia, tão triste, como sou hoje.

[ mulher ]

essa dor vai passar...assim como você!
essa dor vai passar...assim como você!
não diga mais nada , que minha solidão seja só minha!
vou guardar os teus sorrisos, seus olhares mais belos...
vou guardar o retrato mais bonito...
vou guardar nossas risadas!
mas eu não quero mais chorar assim!
eu quero sorrir!
que sabe um dia , a gente possa se encontrar!

às estrelas mortas

Às estrelas mortas do céu dou minhas palavras tortas
Aos elementos presentes na atmosfera que, em sua magnitude, azulam o céu que acolhem as estrelas mortas, dou minha ansiedade calada.
Ela, que derrete e escorre pelos meus membros, e me treme as mãos e os pés frios.
Não há frieza em meus olhos!
Das minhas pupilas dilatadas emerge uma umidade morna, que acolhe o mundo que por elas enxergo.
Imagino suas mãos tocando meu rosto, minha pele, meus pelos, com a leveza que me toca a luz solar,
Uma suavidade inexistente, delineada na tela em branco que pinto cuidadosamente, segundo a segundo, quando estou ao seu lado.
Prendo-te na tempestade dos meus olhos castanhos, e afasto-me, quando distante, dos meus alucinógenos romancistas.
Quando estamos, nós dois, em baixo do fractal esverdeado nada me sobra, não fujo,não sonho, não me calo,não me sustento. Voo,transporto-me para o seu mundo - talvez hoje, um pouco nosso -
Das letras e da ciência, das teses, das fórmulas, dos signos e dos astros.
Não me calo! Como com voracidade fugas todas as suas palavras, mal ditas, bem ditas, adequadas ou não.
Conjugo todos os seus verbos e analiso sintaticamente todos os seus sentimentos entrelinhados nas afirmações categóricas, que você insiste em dizer não haver entrelinhas.