quarta-feira, 24 de setembro de 2008

vovó.

Susto que desabrocha quase aos dezoito anos.
Flor rude,flor que espinha mais que aflora.
Sol que nunca nasce, e tanta,tanto é desejado.
O andar desajeitado da cabeça que não crê no céu, 
E o céu que continua a azular, a amarelar, a aguar e desaguar.
E a cabeça que não crê na terra, que não vê um inferno e grita pelos céus de algum santíssimo.
Quase aos dezoito anos e as meias rasgadas de pernas grossas, 
Da pele de moça que se vê tão idosa...
Moça das pérolas,das pérolas que a vovó tanto almejava.
E vovó está a adoecer,talvez mais colorida dessa vez.
Mas a comida agora é escura,tem cheiro de fumaça de escapamento, 
As conversas são malucas tanto quanto o mundo diz que é.
E enquanto vovó pára, a menina-moça continua,e cresce, 
E vê-se como vovó, muito mais do que com ela.
Talvez com um pouco mais de brilho, 
Mas tão menos talento no cozinhar, e tão menos brilho no olhar.
Com um pouco mais de medo,não tanto do escuro.
Aos velhos dezoito anos, e vovó aos jovens sessenta e oito, 
O tempo não pára, e a menina põe-se a gritar :

"Vovó querida , eu me sinto tão velha!"


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