terça-feira, 29 de outubro de 2013

Sobre sair de casa

O certo é esse, chorar debaixo da água corrente do chuveiro, o choro, em meio a tanta água, é seco. Não distinguir as gotas doces das gotas salgadas.
O peito está cheio, segure em si mesma, aperte o joelho contra ele, deságua,  desova, destoa, desespera, e deixe a água quente cair nas costas, deixe o choro secar em meio a essa imensidão de gotas.
O vapor não me deixa enxergar tão bem um palmo a minha frente e delicadamente o espelho não reflete a minha imagem, e isso é mais do que nunca um alívio.
Nada alivia essa desconexão, mas acalma a auto piedade, acalenta, suspende a mente, deixa o corpo por si só sentir-se úmido, escorregadio, quente.
Eu gostaria de voltar pra casa! A sentença se solidifica, desenha-se por todo o azulejo, desce pelo ralo, sem dó, sem piedade... Não há mais pra onde voltar!

Solta no ar! É assim que me sinto. Seca, só, sólida, sinestésica... Eu não quero nenhuma palavra bonita, eu só quero voltar pra casa, pousar minha mão na tua, falar em você, falar com você, e me sentir em casa, e me sentir novamente segura.

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