domingo, 5 de outubro de 2014

Leve

Já são vinte e quatro, e sinceramente, que diferença faz? Não derrubo por mais de dois meses essas crises de ansiedade, e de repente, tudo que estava tão bem desce correnteza abaixo.
Suspenda a queda livre! É coragem demais para uma garota tola que não consegue suportar dores carnais.
Eu não quero, não aguento e não suporto essa auto piedade, e não vejo esses olhos que vocês veem, tão de repente, eu me perco, em um corpo grande demais pro espaço que ocupo nesse quarto, e pequeno demais pra expansão dos meus pulmões e do meu coração.
E como um raio, numa queda absoluta, eu perco o chão, aquele chão que se encontrava ali, tão concreto e firme, sob meus pés. Já não existe mais, eu flutuo, e delicadamente, e tão delicadamente, eu não quero que haja qualquer delicadeza em meu corpo ou em meu modo de agir. Quero brutalizar, esfriar, me armar com as armas mais letais possíveis, e nada se faz, nada se solidifica.
Eu continuo aqui, subjetiva, abstrata, sensível, sentada na cama, com meus gatos. Nós choramos juntos, eu, meus gatos e minhas cobertas.
Eu não os deixo escolha, eu não sou muito mais do que um punhado de lagrimas, de drogas alopáticas e de sono.
Imagino-me correndo, para o horizonte, e por mais vezes do que costumo ou quero admitir, para os seus braços. Você está me enlouquecendo!
Estamos, nós duas, me enlouquecendo. Isso é pesado demais, isso é solitário demais, e eu quis por tantas vezes nas ultimas trinta e seis horas te contar sobre os clipes que eu criei com as novas musicas que eu tenho ouvido, e sobre como nos amamos nele, sobre como você me olha, e sobre como eu enlouqueço com os sussurros aos pés do ouvido.
Mas sabe qual é a real? Não haverá nada disso. E não é porque essas coisas são para meninas de treze anos, - sim, eu insisto nos treze!- e sim porque eu não quero que você estrague a delicadeza dos meus passos. Já basta que eu mesma o faça. Eu vou afastar-lhe de mim antes mesmo do que você imagina, e por algum tempo eu vou me fazer crer que você o fez por convicções próprias, mas eu vou atormentar tanto o conforto inconfortável do seu dia-a-dia morno, que você não poderá fazer outra coisa se não ir embora.
E quanto, e se – porque eu sempre acredito em uma reviravolta de filmes hollywoodianos – você for, leve consigo minhas palavras, minhas melodias, minhas insistências, e as inúmeras vezes que eu sorri tão sinceramente pra você, tantas delas sem que você estivesse fisicamente ao meu lado.
Leve consigo a mordida que eu quis dar no teu ombro e não consegui, leve o calor que invadiu meu peito quando você me pegou pelas mãos na escada rolante. Leve consigo a coragem que eu não tenho, a doçura que eu não tenho, e a sinceridade escrachada que eu sufoquei na garganta e nos olhos.
Eu sou - e digo com pouca propriedade - um ser cansativo, com asas quebradas e que nem sabe mesmo voar.
Eu tenho medo do escuro e da solidão, e nem ao menos conseguiria fazer uma trilha pra chegar em uma linda cachoeira, eu ouço músicas tristes, com letras românticas, numa língua estrangeira que muitas vezes eu nem sei o que quer dizer. Eu sou nostálgica e guardo coisas do passado, e eu sonho com o passado muito mais do que com o presente ou com um futuro qualquer. Eu sou incoerente, confusa, desabrigada de mim mesma, e eu às vezes faço qualquer coisa por um abraço quentinho. Eu sou um caos caloroso e eu abraçaria minha mãe muito mais vezes do que o faço. Eu sinto muitas saudades dela, e quando eu me sinto ameaçada eu penso no colo dela e nos meus cinco ou seis anos de idade.
Eu não posso ver velhinhos em apuros que eu choro, eu não posso ver crianças em apuros ou felizes demais, porque eu choro, e se eu vir um comercial de televisão, eu vou chorar. Que credibilidade eu tenho?
Eu não sei o quanto de mim sou eu e o quanto é uma tirana, que por vezes, machuca e magoa as pessoas que eu amo, ou que, no mínimo, eu não queria magoar.
Eu queria que você estivesse ao meu lado muito mais do que você se dispõe a estar, eu gostaria de poder te acariciar por uma noite inteira, e de acalmar seus monstros, eu gostaria de te amar. Mas eu não posso. Não posso ainda, não posso te amar sem sua permissão, porque eu me condicionei a achar que não devemos amar assim, sem um tempo mínimo pra isso, sem uma proximidade mínima e uma reciprocidade coerente. 
Mas posso te contar um segredo? Eu não acredito realmente nisso. Eu só tenho medo. Eu só tenho certeza de que não será o seu desejo, e que você irá embora, hora ou outra, levando consigo o meu mais recente olhar apaixonado.
Eu não aguento esse silencio, essa distancia, e eu serei tão nociva a mim por isso que não acho que posso não ser a você.

Eu não sou mais do que um soluço no meio da noite, e você é um lindo nascer do sol em uma manhã de primavera – pelas próximas duas ou três horas.

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