Já são
vinte e quatro, e sinceramente, que diferença faz? Não derrubo por mais de dois
meses essas crises de ansiedade, e de repente, tudo que estava tão bem desce
correnteza abaixo.
Suspenda
a queda livre! É coragem demais para uma garota tola que não consegue suportar
dores carnais.
Eu não
quero, não aguento e não suporto essa auto piedade, e não vejo esses olhos que
vocês veem, tão de repente, eu me perco, em um corpo grande demais pro espaço
que ocupo nesse quarto, e pequeno demais pra expansão dos meus pulmões e do meu
coração.
E como
um raio, numa queda absoluta, eu perco o chão, aquele chão que se encontrava
ali, tão concreto e firme, sob meus pés. Já não existe mais, eu flutuo, e
delicadamente, e tão delicadamente, eu não quero que haja qualquer delicadeza em
meu corpo ou em meu modo de agir. Quero brutalizar, esfriar, me armar com as armas
mais letais possíveis, e nada se faz, nada se solidifica.
Eu continuo
aqui, subjetiva, abstrata, sensível, sentada na cama, com meus gatos. Nós
choramos juntos, eu, meus gatos e minhas cobertas.
Eu não os
deixo escolha, eu não sou muito mais do que um punhado de lagrimas, de drogas alopáticas
e de sono.
Imagino-me
correndo, para o horizonte, e por mais vezes do que costumo ou quero admitir,
para os seus braços. Você está me enlouquecendo!
Estamos,
nós duas, me enlouquecendo. Isso é pesado demais, isso é solitário demais, e eu
quis por tantas vezes nas ultimas trinta e seis horas te contar sobre os clipes
que eu criei com as novas musicas que eu tenho ouvido, e sobre como nos amamos
nele, sobre como você me olha, e sobre como eu enlouqueço com os sussurros aos
pés do ouvido.
Mas
sabe qual é a real? Não haverá nada disso. E não é porque essas coisas são para
meninas de treze anos, - sim, eu insisto nos treze!- e sim porque eu não quero
que você estrague a delicadeza dos meus passos. Já basta que eu mesma o faça.
Eu vou afastar-lhe de mim antes mesmo do que você imagina, e por algum tempo eu
vou me fazer crer que você o fez por convicções próprias, mas eu vou atormentar
tanto o conforto inconfortável do seu dia-a-dia morno, que você não poderá
fazer outra coisa se não ir embora.
E
quanto, e se – porque eu sempre acredito em uma reviravolta de filmes
hollywoodianos – você for, leve consigo minhas palavras, minhas melodias,
minhas insistências, e as inúmeras vezes que eu sorri tão sinceramente pra
você, tantas delas sem que você estivesse fisicamente ao meu lado.
Leve
consigo a mordida que eu quis dar no teu ombro e não consegui, leve o calor que
invadiu meu peito quando você me pegou pelas mãos na escada rolante. Leve
consigo a coragem que eu não tenho, a doçura que eu não tenho, e a sinceridade
escrachada que eu sufoquei na garganta e nos olhos.
Eu sou
- e digo com pouca propriedade - um ser cansativo, com asas quebradas e que nem
sabe mesmo voar.
Eu
tenho medo do escuro e da solidão, e nem ao menos conseguiria fazer uma trilha
pra chegar em uma linda cachoeira, eu ouço músicas tristes, com letras românticas,
numa língua estrangeira que muitas vezes eu nem sei o que quer dizer. Eu sou nostálgica
e guardo coisas do passado, e eu sonho com o passado muito mais do que com o
presente ou com um futuro qualquer. Eu sou incoerente, confusa, desabrigada de
mim mesma, e eu às vezes faço qualquer coisa por um abraço quentinho. Eu sou um
caos caloroso e eu abraçaria minha mãe muito mais vezes do que o faço. Eu sinto
muitas saudades dela, e quando eu me sinto ameaçada eu penso no colo dela e nos
meus cinco ou seis anos de idade.
Eu não
posso ver velhinhos em apuros que eu choro, eu não posso ver crianças em apuros
ou felizes demais, porque eu choro, e se eu vir um comercial de televisão, eu
vou chorar. Que credibilidade eu tenho?
Eu não
sei o quanto de mim sou eu e o quanto é uma tirana, que por vezes, machuca e
magoa as pessoas que eu amo, ou que, no mínimo, eu não queria magoar.
Eu
queria que você estivesse ao meu lado muito mais do que você se dispõe a estar,
eu gostaria de poder te acariciar por uma noite inteira, e de acalmar seus
monstros, eu gostaria de te amar. Mas eu não posso. Não posso ainda, não posso
te amar sem sua permissão, porque eu me condicionei a achar que não devemos
amar assim, sem um tempo mínimo pra isso, sem uma proximidade mínima e uma
reciprocidade coerente.
Mas posso te contar um segredo? Eu não acredito
realmente nisso. Eu só tenho medo. Eu só tenho certeza de que não será o seu
desejo, e que você irá embora, hora ou outra, levando consigo o meu mais
recente olhar apaixonado.
Eu não
aguento esse silencio, essa distancia, e eu serei tão nociva a mim por isso que
não acho que posso não ser a você.
Eu não
sou mais do que um soluço no meio da noite, e você é um lindo nascer do sol em
uma manhã de primavera – pelas próximas duas ou três horas.
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