sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Louca, tão louca.

Minha cama me chama de louca, meus sapatos apertados me gritam: LOUCA!
O som estridente que sai de mim me diz mais uma vez que sou louca!
Carrego a ansiedade amarrada aos meus tornozelos, e a arrasto pesada como bolas de chumbo.
Amo ansiosamente, como com a fúria de quem ama, e enfureço-me com a passionalidade de quem morre de fome.
Durmo e acordo e lá está ela, me olhando de frente, aficionada, de olhos fundos, quase que hipnotizante. E essa ansiedade calada, robusta, tem mãos firmes, enquanto as minhas tremem como um pássaro ferido.
Por vezes me acalmo, assim que gozo. Quando, depois do estremecer agudo de todos os meus músculos, involuntariamente, eles se relaxam, e então, saio em êxtase do meu corpo aprisionador e flutuo sobre mim.
Mantenho-me calma e louca, pois ainda que a inebriação do orgasmo me anulem os olhos negros da ansiedade, ainda assim, a loucura não me sai. 
Essa, não me abandona, ela me pinta de vermelho-puta as unhas e os lábios, e me deixa nua, coberta apenas por pérolas de plástico. Aí então ardo, queimo, e carbonizo, e quase que instantaneamente choro. Derramo as lágrimas da minha mãe, e da mãe da minha mãe, e da mãe da mãe da minha mãe.
Sangro o vermelho-puta inoculo em meu ventre, e me escorre morno pelas pernas, e das unhas e das gengivas aos lábios. Não dói! Liberta-me! Purifica-me!
E antes que o sol se ponha, arranco meus pelos da pele, mutilo-me!
Não aceito meu jardim, cultivo flores fora de mim, nas peles das garotas que floreiam no asfalto.
E hoje, seis ou sete anos depois, ainda posso sentir aquela mão a tapar meu grito de socorro!
Eu não morreria aquela noite, nem mesmo morrerei agora, esta noite, mas não se veda o grito desesperado de uma mulher, meu caro, este implodirá!
Hoje, ainda grito! Meu surto é estridente, e até esperneio, mas não abro a boca mais que alguns centímetros...
Faço-os pelos olhos! Tempesteio-me ,querida, ao sabor da ventania!

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