sexta-feira, 22 de maio de 2015

O beijo e o desconcerto.

O beijo ainda está fresco, úmido, cru.
Ainda sinto o toque da mão desconhecida,
O susto, os calafrios, a solidão compartilhada.
Caio em mim, dose a dose a cada segundo: 
O medo de planar por teus olhos negros é suicida.
Desaguo e escorro por entre seus dedos.
Não posso ficar, não consigo ir embora. Estagno.
Há tanta coragem nos nossos beijos divididos por esquinas do centro da metrópole.
A corrosividade do concreto, 
A degradação dos corpos que perambulam pelo asfalto, 
O trotar asqueroso dos homens nos bares, 
A beatificação da senhora que entrega panfletos santos, 
Os degraus da igreja! Os imundos degraus da igreja! 
E nada disso me tocou enquanto mantive meus olhos fixados aos teus.
Eu sorri.Você sorriu.
Ah,é essa conectividade que me desconcerta. 
Há tanta descoberta, mesmo aqui no quarto escuro embaixo das cobertas.
Teu cheiro ainda está fresco por aqui, colhido há pouco, como fruta suculenta que cai madura do pé.
E eu te olharia, em paz, por uma tarde inteira.

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