terça-feira, 21 de julho de 2015

As marginais

Adentrar a madrugada ao lado delas, sentir o peso das pálpebras e dormir no quase nascer do sol com um sorriso nos lábios, ao lado delas.
Ver o sol dividir o céu com a lua por detrás dos arranha-céus ao lado dela.
Falar sobre elas, sentir o arrepio na pele pelo toque delas, sentir a solidão ir embora, escorrendo pelos bueiros imundos da cidade dos homens. Não ter medo, sentir-se em casa, sorrir tranquila, ao lado delas.
Olhe fundo nos meus olhos, eu estou contigo. Estamos de mãos dadas, de dedos entrelaçados, no vão do mundo!
Eu entendo sua urgência, eu também a sinto pulsando por todo meu corpo. Eu entendo seu pedido de socorro, o suor nas mãos, a solidão também me corroe, me corrompe.
Não é mais preciso se esconder quando estamos juntas, podemos soltar todo o grito contido, podemos expor nossas feridas e cuidar delas, eu da sua, você da minha, ela da sua, eu da dela, eu da minha, você da sua, ela da dela...
Não estamos felizes juntas, felicidade não cabe quando se carrega nas costas o peso da violência de toda uma vida, estamos seguras e fortalecidas, estamos conectadas, e dividir o peso pode ser razão de mais um dia viva.
Eu estive com elas, estive com as dores delas, estive inebriada pela beleza delas, pelos corpos que sangram, pelas almas que sangram, pelos olhos que sangram.
Eu sou elas, das mãos grandes, das mãos pequenas, do corpo miúdo, do corpo alongado, dos cabelos curtos, dos cabelos longos, dos não-cabelos, da luta!
Lésbicas, elas são as lésbicas, eu sou a lésbica, somos essa palavra que não se diz, somos a solidão, as marginais, a sapatão!
E é com elas que eu quero estar, é por elas que eu quero estar.
Me dê sua mão, se você cair eu te ergo! ( assim como vocês me ergueram ontem)

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