quarta-feira, 15 de julho de 2015

Tóxica

Nós fomos um brilho no escuro, como uma estrela. Viemos como um dilúvio e derrubamos tudo pela frente, nossos beijos atravessaram os acordes da guitarra.
Estou cansada de falar sobre nós como se não estivéssemos aqui, como se eu não estivesse olhando fundo nos teus olhos e sentindo meu corpo estremecer.
Eu desejei tanto ir embora, acho que ainda desejo, aqui, no profundo obscuro do meu coração.
Hoje eu reconheço suas mentiras e elas não são piores do que as minhas, eu sei que elas eram tudo que você tinha.
Sei daquela sua solidão melancólica, sei da minha solidão efusiva, e escolhemos viver juntas nossas solidões.Mesmo com toda a dor mantivemos aquecidos nossos corações.
Nós tivemos um plano em nossas mentes: cabelos ao vento, pé na estradas, Janis ou Marchall , quem sabe até Gessinger, nos fones de ouvido divido. Não duvido que desenhamos o cigarro entre os dedos, sempre achei suicidamente lindo vê-la soltar a fumaça em formas circulares dos lábios avermelhados. 
Eu e meus vestidos floridos, você e sua calça rasgada, meus lábios vermelhos, seus grandes olhos esfumaçados. Você me salvou, eu te salvei! E com a mesma força nós destruímos, pouco a pouco, o muito que tivemos.
Nós fomos um rompante, uma roleta-russa de sentimentos, acertamo-nos nos pés e no coração. 
O fogo queima o peito, faz arder todos os órgãos do tronco, paralisa os braços. A bala continua alojada, não podemos extraí-la, tirá-la nos mataria. 
Nos restou correr, e assim o fizemos, corremos muito. Primeiro você, correu de angústia. Depois eu, corri pra te pedir pra ficar. Ainda sinto-me ofegante, você sabe, nunca foi meu forte exercitar-me.
Sentei ao meio fio, no frio cinzento do asfalto, e chorei por dias incalculáveis. Eu só queria voltar pra casa, meu bem. Eu só queria que você viesse me buscar, que me deixasse afagar seus cabelos enquanto o sono não vem. Acordar depois de um sonho ruim e sentir o calor da sua respiração.
Não dormi, tão pouco acordei. Você não veio me buscar, não voltaria mais, eu sei. Levantei e segui, contaminada pelo cinza, pela fuligem, pela dureza de caminhar com minhas próprias pernas gordas.
Caminhei, lenta e perdida, errei o caminho, voltei. Caminhei, caí, levantei, chorei, pedi por todos os santos que você voltasse. Caminhei, me pintei, me lavei, me tirei de mim, me devolvi à mim e chorei.
Não é seguro estar contigo, tanto quanto não é seguro estar viva. Você é tóxica, meu amor, tanto quanto eu e o resto do mundo.
Parte de aceitar quem sou é aceitar nosso amor, porque te amei como quem enfurece, rasguei minha pele, não preciso esconder minha fúria agora. Você não precisa mais se esconder, querida. Estamos juntas,de alguma forma, no inferno.
Contamine-se com a doçura fatal de nossos sorrisos fundidos e em silêncio assassine tudo que te faça ter dúvidas de que você é capaz de lutar.
Se nosso amor é caustico é porque caustificaram-nos, não precisamos nos curar, o sal do suor na carne viva o fará por nós, o que precisamos é matá-los!

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