Me sento no chão, é aqui que gosto de ficar. As pessoas passam por mim e não compreendem, mas tudo bem, eu já me acostumei com as incompreensões. Ponho os fones nos ouvidos, a chuva não dá trégua e bem a minha frente tem um jardim, aqui, no centro da cidade de São Paulo, no coração da selva de pedras, no cantinho escondido do metrô e todo seu caos, um jardim. Árvores, pedras, borboletas, um céu encoberto, meu respiro. Eu gosto de ficar contemplando esse espaço, ele é um contrassenso, uma afronta, e eu me sinto assim também.
Não paro de pensar que preciso transformar essa dor em arte, mas a verdade é que só faço multiplicar e não acalentar essa ferida. Hoje é um daqueles dias, sinto sendo levada por ele, pelo passar das horas. A noite passada não foi nada boa, o moletom, o edredom, os travesseiros, nada me deixava em paz, é como se me cutucassem, me chamassem, cantassem no meu ouvido, e você no fundo da cabeça, naquela parte da mente que quando se percebe já emergiu. Eu não te expulsei de mim, nem deu tempo, eu só queria dormir, sentir as pálpebras pesando e me levando pra longe. Nesse vai e vem acordei de manhã tão cansada que nem o café forte me ajudou. De repente tanta coisa aconteceu: reforma em casa, tomar banho pra ir ao médico, terapia, rua, asfalto, trânsito, chuva, mais chuva e eu não posso parar. Tudo bem, eu nem consigo mesmo parar, a massa me leva e eu vou, eu voo.
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