sexta-feira, 15 de abril de 2016

obcessão

eu sou tão obcecada, meu amor
compulsiva e desgastante
mal fecho meus olhos e lá está você
suspensa em quietude
meus braços compridos não te alcançam
e me angustia a lembrança de quando
dançávamos com as mãos no ar
havia tanto espaço e oxigênio
eu estou multiplicando minhas dores
me sinto tão repetitiva, meu bem
o medo hoje não me toma de todo
mas há dias em que me sinto mergulhada
até o pescoço e a pressão no peito é tão intensa
que eu sinto medo de morrer.
acho que você é bem melhor
em reconstruir a vida do que eu
eu caminho por aí tremula
com essas feridas abertas, expostas
eu rasgo minha pele quando sinto a alma latejando
antes esse sangue escorrendo do que essas lagrimas corrosivas
eu sinto, pela primeira vez na vida, o tempo passar por mim
eu não o acompanho mais, nós nos desconectamos
é incrível a capacidade de regeneração da pele
as cicatrizes muitas vezes até desaparecem 
nada fica, nem mesmo consigo recordar a dor dos cortes
eu me sinto tão drogada, o tempo todo
tudo que eu sempre quis ser e nunca encontrei
agora eu posso ver e o meu mundo é vazio
e o silêncio e a solidão não me machucam como antes
e eu estou aqui, estática, bem a sua frente
pronta pra lhe dizer que a saudade é orgânica
e ela brota por toda minha extensão
é tecido que me reveste, tecido retalhado
é saudade, minhas células respiram saudade.

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