Na correria desesperadora do metropolitano quase não percebemos coisas,
milhares de pessoas passam e às seis da tarde tudo vira um grande
amontoado de informações, vozes, cores e vidas, vidas passageiras.
Nesses três anos e tanto que passei uniformizada nas plataformas
barulhentas do metrô de São Paulo muito vi, muito senti, pouco deixei
desaguar.
Desaguo hoje, em silêncio, o pedido de socorro de uma
mulher em situação de violência doméstica. Uma mãe, uma trabalhadora de
duas, três jornadas, com olhos
assustados me pediu que eu procurasse ao redor, enquanto ela se mantinha
escondida, seu agressor. Olhei fundo em seus olhos, senti o medo em
mim, vesti-me de uma coragem pouco usada por mim e fui em busca dessa
imagem descrita por ela. Olhei por todos os lados, subi, desci... Não,
ele não está aqui.
Ainda assim, levei-a de forma estratégica até a
outra plataforma, ela só estava na que eu a encontrei para despista-lo.
Escondi-a atrás de mim, perguntei se ela não queria fazer uma denúncia
(não me ocorreu nada além disso para lhe falar), ela disse que já fez
muitas e que da última vez que ela apanhou ele quase quebrou o braço
dela.
Ela disse : eu só quero ir para casa ficar com meus filhos.
Eu chorei calada, apertei sua mão em um gesto desastroso de lhe apoiar, e disse ao embarca-la: " vai com Deus!"
Bem eu que não creio nesse Deus, bem eu que evito ao máximo reproduzir
esse imaginário patriarcal, bem eu que clamo pelas Deusas, pela mãe
terra, pelas bruxas, pelas ciganas... Rendi-me ao Deus que ao certo ela
reza todas as noites pra acordar viva.
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