Você sabe que ela vai voltar e preterir e destruir tudo a nossa volta. Pé por pé, sorrateiramente. E os cacos voam para o teto, tem a ver com aquela cadeira que você não quebrou nas costas dele, e com aquele amor que queimou você por dentro e você deixou.se incendiar como uma labareda que ilumina um vilarejo inteiro. Você iluminou tudo aqui e agora não sabemos viver na escuridão mesmo sabendo que na escuridão eu ouço melhor todos os meus ruídos e os gritos abafados no peito. Agora eu te escrevo com o cigarro entre os dedos da mão esquerda e lsd na cabeça. Essa cabeça sozinha, delicada e tão perturbada que você insistia em ninar. Eu não consigo gostar do odor da nicotina mas é só e tanta solidão que me enviou nessa carta de ausência e silêncio.
O tempo está se perdendo no meu coração e ela chegou e parou os ponteiros do relógio, agora eles vão n ritmo único rumo a lugar nenhum. Eu não quero rotas e destinos, não me agrada o pes cansados de tanto te procurar, já me basta a cabeça que não para de girar. Eu sinto amor no chá de gengibre com canela, no canteiro de plantinhas que n existe ainda, nas luzes coloridas que ecoam no teto da sala, a sala que é a minha casa e a dela, a casa que sou eu e que é ela.
Na loucura que a gente compartilha e corrompe e traz pra dentro de toda a nossa imensidão. Eu descobri um mundo sem você e sou um desabrochar constante de inconstâncias e insanidades. Eu quero assim. Eu quero assassinar minha etiqueta, meus pesares, já me basta meu peso e medidas.
Eu sou sólida, líquida e escorro pelo gozo entre minhas pernas peludas. E os pelos me acalmam, me aquecem e me mantém intacta, contactada comigo e com elas.
A casa que é minha, que é dela, e que agora é brisa calma, é mansidão e emancipação das nossas tragédias.
sábado, 16 de abril de 2016
sexta-feira, 15 de abril de 2016
obcessão
eu sou tão obcecada, meu amor
compulsiva e desgastante
mal fecho meus olhos e lá está você
suspensa em quietude
meus braços compridos não te alcançam
e me angustia a lembrança de quando
dançávamos com as mãos no ar
havia tanto espaço e oxigênio
eu estou multiplicando minhas dores
me sinto tão repetitiva, meu bem
o medo hoje não me toma de todo
mas há dias em que me sinto mergulhada
até o pescoço e a pressão no peito é tão intensa
que eu sinto medo de morrer.
acho que você é bem melhor
em reconstruir a vida do que eu
eu caminho por aí tremula
com essas feridas abertas, expostas
eu rasgo minha pele quando sinto a alma latejando
antes esse sangue escorrendo do que essas lagrimas corrosivas
eu sinto, pela primeira vez na vida, o tempo passar por mim
eu não o acompanho mais, nós nos desconectamos
é incrível a capacidade de regeneração da pele
as cicatrizes muitas vezes até desaparecem
nada fica, nem mesmo consigo recordar a dor dos cortes
eu me sinto tão drogada, o tempo todo
tudo que eu sempre quis ser e nunca encontrei
agora eu posso ver e o meu mundo é vazio
e o silêncio e a solidão não me machucam como antes
e eu estou aqui, estática, bem a sua frente
pronta pra lhe dizer que a saudade é orgânica
e ela brota por toda minha extensão
é tecido que me reveste, tecido retalhado
é saudade, minhas células respiram saudade.
Me sento no chão, é aqui que gosto de ficar. As pessoas passam por mim e não compreendem, mas tudo bem, eu já me acostumei com as incompreensões. Ponho os fones nos ouvidos, a chuva não dá trégua e bem a minha frente tem um jardim, aqui, no centro da cidade de São Paulo, no coração da selva de pedras, no cantinho escondido do metrô e todo seu caos, um jardim. Árvores, pedras, borboletas, um céu encoberto, meu respiro. Eu gosto de ficar contemplando esse espaço, ele é um contrassenso, uma afronta, e eu me sinto assim também.
Não paro de pensar que preciso transformar essa dor em arte, mas a verdade é que só faço multiplicar e não acalentar essa ferida. Hoje é um daqueles dias, sinto sendo levada por ele, pelo passar das horas. A noite passada não foi nada boa, o moletom, o edredom, os travesseiros, nada me deixava em paz, é como se me cutucassem, me chamassem, cantassem no meu ouvido, e você no fundo da cabeça, naquela parte da mente que quando se percebe já emergiu. Eu não te expulsei de mim, nem deu tempo, eu só queria dormir, sentir as pálpebras pesando e me levando pra longe. Nesse vai e vem acordei de manhã tão cansada que nem o café forte me ajudou. De repente tanta coisa aconteceu: reforma em casa, tomar banho pra ir ao médico, terapia, rua, asfalto, trânsito, chuva, mais chuva e eu não posso parar. Tudo bem, eu nem consigo mesmo parar, a massa me leva e eu vou, eu voo.
Não paro de pensar que preciso transformar essa dor em arte, mas a verdade é que só faço multiplicar e não acalentar essa ferida. Hoje é um daqueles dias, sinto sendo levada por ele, pelo passar das horas. A noite passada não foi nada boa, o moletom, o edredom, os travesseiros, nada me deixava em paz, é como se me cutucassem, me chamassem, cantassem no meu ouvido, e você no fundo da cabeça, naquela parte da mente que quando se percebe já emergiu. Eu não te expulsei de mim, nem deu tempo, eu só queria dormir, sentir as pálpebras pesando e me levando pra longe. Nesse vai e vem acordei de manhã tão cansada que nem o café forte me ajudou. De repente tanta coisa aconteceu: reforma em casa, tomar banho pra ir ao médico, terapia, rua, asfalto, trânsito, chuva, mais chuva e eu não posso parar. Tudo bem, eu nem consigo mesmo parar, a massa me leva e eu vou, eu voo.
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